terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Reunião de pais

Reunião de pais: como garantir momentos produtivos e cheios de sentido

Conheça diversas propostas para o encontro com a família e saiba como planejar e tirar o melhor proveito de cada uma delas

Karina Padial (karina.padial@fvc.org.br)

Conheça diversas propostas para o encontro com a família e saiba como planejar e tirar o melhor proveito de cada uma. Ilustração: Bruno Algarve
Praticamente toda escola organiza reuniões de pais. No entanto, frequentemente, elas resultam em baixo número de participantes ou em discussões improdutivas. Assim, não são atendidas as expectativas dos educadores nem dos responsáveis. Se você está passando por uma situação como essa, é hora de revisar os mecanismos utilizados para planejar e realizar os encontros com as famílias.

"As reuniões devem ser momentos de integração em que os pais tenham oportunidade de conhecer sobre o que as crianças fazem e aprendem e em que os educadores respondam às dúvidas deles, criando um clima de debate e crescimento", afirma Sonia Kramer, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), no livro Com a Pré-Escola nas Mãos: Uma Alternativa Curricular para a Educação Infantil (110 págs., Ed. Ática, tel. 11/4003-3061, edição esgotada).

A preocupação com o planejamento das reuniões e o propósito que elas terão deve estar presente desde a elaboração do projeto político-pedagógico (PPP). Para operacionalizá-las com sucesso, é preciso conhecer a realidade e as necessidades das famílias. Isso inclui, por exemplo, ter ciência do horário de trabalho dos responsáveis. Também é essencial envolver os pais no planejamento das atividades, permitir que opinem na definição de temas a ser contemplados e promover momentos de avaliação em que possam fazer sugestões e críticas. Depois do evento em si, uma síntese do que foi discutido ajuda a reafirmar o espaço de participação e a manter informados os que não puderam comparecer.

A presença nos encontros ainda exige outros cuidados, como organizar um ambiente acolhedor, garantir espaço para todos os participantes e convocar os interessados com antecedência. Os convites precisam ser claros, usar linguagem acessível e conter informações precisas sobre o tema e o objetivo. "A participação dos familiares é mais efetiva quando ela é relacionada à aprendizagem. Por esse motivo, o evento deve ser uma oportunidade para eles se inteirarem do progresso e do desenvolvimento dos alunos", aponta o documento Hojas de Consejos para las Reuniones de Padres y Maestros para Directores, Maestros y Padres de Familia (Páginas de conselhos para as reuniões de pais e mestres para diretores, professores e pais, em tradução livre), publicado pelo Projeto de Pesquisa Familiar da Universidade de Harvard
Ao se aterem a informações burocráticas, entrega de notas e críticas ao desempenho e ao comportamento do aluno, os encontros se afastam da intenção inicial. "Para evitar isso, diretores, coordenadores pedagógicos e professores devem trabalhar juntos no planejamento das reuniões, atentos às necessidades da escola e do grupo de pais para que elas não se restrinjam ao período de fechamento de bimestre nem sirvam apenas para que o boletim ou uma produção sejam retirados", afirma Heloísa Helena Genovese de Oliveira Garcia, autora da tese Família e Escola na Educação Infantil: Um Estudo sobre Reunião de Pais.

Ao realizar uma preparação mais cuidadosa desses encontros, nota-se que é possível diversificar formatos de acordo com o que se deseja alcançar. O começo do ano letivo, por exemplo, exige um momento de socialização do regimento interno e de informações relativas ao funcionamento da instituição e de apresentação de docentes e funcionários. As dúvidas ou queixas sobre as mordidas na Educação Infantil ou os casos de bullying, por sua vez, podem ser esclarecidas em reuniões temáticas com a presença de especialistas. Agora, se o assunto for relacionado ao desempenho de um estudante, é válido convocar uma conversa individual com os responsáveis. Já na transição de etapas, como a passagem do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental, é importante esclarecer as mudanças que vão ocorrer. E há outras oportunidades - como a entrada no ciclo de alfabetização - em que cabe uma explicação sobre o processo de aprendizagem e as concepções de ensino. Por fim, para aproximar os pais dos avanços da turma e da maneira como os conteúdos são trabalhados em sala de aula, o ideal é compartilhar as produções dos alunos.

Confira a seguir como seis escolas ganharam na presença e no envolvimento das famílias ao diversificar o formato e a proposta da reunião e veja a orientação de especialistas para cada tipo de encontro.
  • Reunião de começo de ano
Parceria firmada desde os primeiros dias de aula
Em Ipixuna do Pará, avaliações externas e outros indicadores são analisados em fevereiro. Foto: Divulgação
Resultados Em Ipixuna do Pará, avaliações externas e outros indicadores são analisados em fevereiro
Os pais precisam conhecer o local em que os filhos vão estudar e os professores e funcionários com quem eles vão conviver e entender as regras e concepções que regem o ensino ali. Por isso, o primeiro encontro do ano com os responsáveis é estratégico.

Nele, um representante de cada área deve estar presente, incluindo a secretaria e as equipes de limpeza e cozinha. "Esse também é o momento para que o diretor e o coordenador pedagógico, juntos, falem com todas as famílias sobre o PPP", afirma Ana Paula Araújo Fonseca, doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

O funcionamento da escola e a rotina dos alunos em relação ao horário de entrada, de saída e dos intervalos, assim como o regimento interno, que traz as regras de convivência, também devem estar na pauta. Essa discussão pode servir, inclusive, como um espaço de integração. Beate Althuon, consultora do programa Gestão Escolar de Qualidade, da Fundação L’Hermitage, em Belo Horizonte, sugere que sejam formados grupos em que os pais com mais tempo de escola apresentem e discutam as normas com os mais novos. "Isso colabora para que os gestores identifiquem quais regras já foram internalizadas e quais precisam ser retomadas", afirma.

Se algum projeto institucional estiver previsto, essa é a hora para informar os familiares sobre como as classes serão envolvidas e quais objetivos se quer alcançar. Compartilhar a maneira como se avalia a aprendizagem dos estudantes e a periodicidade com que isso ocorre é outra função dessa reunião.

Na EMEF Antonio Marques, em Ipixuna do Pará, a 255 quilômetros de Belém, a coordenadora pedagógica Luciana de Brito socializa os resultados das avaliações externas e os índices de aprovação, reprovação e evasão na primeira reunião do ano, em fevereiro. Com base nesses dados, ela apresenta as ações desenvolvidas para melhorar a aprendizagem, como a formação continuada dos professores e as aulas de reforço para quem possui alguma dificuldade. Ela ainda retoma a importância da colaboração da família com o acompanhamento da lição de casa, a garantia da frequência do aluno à escola e a organização dos materiais e dos tempos de estudo. "Sempre separamos um espaço para que todos tirem dúvidas e deem sugestões. Assim, valorizamos a presença e a participação deles", diz Luciana.

A reunião em Ipixuna do Pará, no entanto, não acaba aí. Depois dos informes gerais, os presentes são divididos e cada um segue com o professor da turma do filho. Na sala de aula, o docente faz um resumo dos conteúdos que serão abordados durante o ano, dos materiais e recursos que serão utilizados e dos resultados esperados. O formato tem dado tão certo que a cada vez a lista de presença é maior. Em fevereiro deste ano, mais de 220 pais compareceram.
Preste atençãoSe a escola não tiver um espaço confortável para acomodar todos de uma vez, divida o grupo e faça o encontro em duas ou mais datas.
  • Reunião individual
Momento particular para casos específicos
O baixo desempenho e também as boas notícias motivam conversa em Londrina. Foto: Fabio Augusto
Um dia para cada um O baixo desempenho e também as boas notícias motivam conversa em Londrina
Não se deve esperar a reunião geral para expor os problemas ou os avanços que um aluno vem apresentando nem permitir que os pais dominem os encontros coletivos com comentários e dúvidas sobre uma criança. Casos particulares, tanto os positivos quanto os negativos, devem ser tratados em atendimentos individuais.

"Os responsáveis precisam saber que podem procurar a escola sempre que houver necessidade. Isso mostra a preocupação da gestão com o desenvolvimento de cada aluno e transmite segurança ao pai", ressalta Selma Inês Campbell, autora do livro Reunião de Pais e Mestres - Organização e Planejamento (116 págs., Ed. Wak, tel. 21/3208-6095, 26 reais). Ao identificar algo que está prejudicando o desempenho ou os relacionamentos do aluno, como problemas de saúde, mudanças de atitude, dificuldades emocionais ou de aprendizagem, é fundamental que a equipe gestora marque um momento com a família. Mas essa reunião não pode se transformar em um espaço de confronto e punição.

Culpar os pais não traz mudanças. Ao contrário, isso gera sentimentos de fracasso e angústia nos adultos e tensão na relação deles com a criança. Por essa razão, a conversa precisa fugir dos julgamentos e se concentrar em compartilhar a questão e compreender os motivos que têm levado a ela.

Os gestores da CE Professor José Carlos Pinotti, em Londrina, a 388 quilômetros de Curitiba, sabem disso. "Temos muito cuidado para que os alunos e os responsáveis não achem que é uma oportunidade para briga ou retaliação. Nossa postura é a de buscar uma solução em conjunto com todos os envolvidos", explica a diretora Evelice Maria Bueno.

Quando, por exemplo, um aluno está com baixo desempenho em Matemática, a equipe indica as aulas de reforço no contraturno. No caso de os mecanismos internos não darem conta da situação, parceiros externos podem ser acionados se todos concordarem com o encaminhamento. Se um aluno tem dificuldade de visão, a escola ajuda a buscar um oftalmologista.

É preciso ficar atento, no entanto, para não preencher esses horários apenas com problemas. "É interessante que coordenadores pedagógicos e professores apresentem dados positivos sobre o avanço da criança", defende Beate Althuon. Nos encontros em Londrina, as boas notícias também são compartilhadas. Por isso, a conquista de um prêmio, a melhora no rendimento em uma disciplina ou a mudança positiva de comportamento podem justificar a ida dos pais à escola.

As reuniões têm sempre a presença de um representante da equipe diretiva e outro da coordenação pedagógica. O envolvimento de professores e alunos é avaliado a cada caso. Depois, a ficha de acompanhamento do estudante é atualizada. "Essa prática teve impacto positivo no desempenho e no comportamento dos estudantes. É raro ter de tratar duas vezes do mesmo assunto", afirma Evelice.
Preste atençãoOrganize-se para chamar todos os pais para um encontro individual pelo menos uma vez ao ano, além, é claro, de quando houver um tema urgente a tratar, e não só quando há um ponto negativo.
  • Reunião temática
Assunto e local adequados aos interesses dos pais
Diretora e assistente social colaboram com a formação das famílias em centro comunitário. Foto: Fabio Augusto
A escola no bairro Diretora e assistente social colaboram com a formação das famílias em centro comunitário
São vários os temas que afligem os pais ou que a escola sente que poderia abordar com eles. "Contemplar as demandas das famílias é uma maneira de se aproximar delas e ajudar a lidar com suas dúvidas e a enfrentar dificuldades que surgem diariamente na Educação dos filhos", afirma Cisele Ortiz, coordenadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Para mapear essas necessidades, as equipes gestora e docente devem estar atentas a questões colocadas pelos familiares no dia a dia. Também pode-se criar estratégias para que eles opinem em relação aos assuntos que gostariam de discutir. Enquetes no site, pedidos de sugestão por e-mail ou questionários enviados para casa pelo aluno auxiliam a identificar as principais angústias.

Com o assunto definido, vale avaliar o envolvimento de um especialista no encontro. Além de abordar aspectos que não são do domínio dos educadores, o palestrante apresenta estudos e pesquisas sobre a área que ajudam a embasar o trabalho da instituição e a reflexão dos pais. "Mas é preciso que ele seja orientado em relação às características e expectativas do público. Palestras muito teóricas, que pouco se relacionam com a experiência dos responsáveis e que não utilizam linguagem acessível desestimulam a participação", alerta Selma Inês Campbell. Definir um mediador, como o coordenador ou um professor, dá a oportunidade para que os presentes se expressem e tirem dúvidas, além de evitar desvios de assunto.

Desde o ano passado, o CE Arnaldo Busato, em Coronel Vivida, a 404 quilômetros de Curitiba, passou a realizar reuniões temáticas. A primeira questão abordada foi a evasão escolar, algo que vinha sendo discutido pelos órgãos públicos do município. Um evento inicial tratou do assunto com todos. A ele seguiram-se outros três com um grupo de familiares que estava enfrentando o problema. Representantes do Conselho Tutelar e da Promotoria Pública do município participaram das discussões.

"Esses encontros foram os mais produtivos do ano. Por se tratar de algo que de fato interessava aos pais, houve um envolvimento muito maior, a ponto de revertermos alguns casos de abandono. Por isso, resolvemos manter a proposta este ano", conta a diretora Erozane Pizzoni Casagrande.

O primeiro debate de 2014 foi sobre a importância da parceria da família com a escola e contou com a presença de uma assistente social do munícipio, que relatou casos em que o acompanhamento mais sistemático dos pais se mostrou fundamental para a melhoria do desempenho dos filhos. A novidade, no entanto, ficou por conta da organização dos encontros em centros comunitários de quatro bairros diferentes. "A instituição fica na região central da cidade, que possui uma área rural muito extensa. Por isso, há certa dificuldade de os pais se deslocarem até aqui. Em vez de ficarmos reclamando, resolvemos nos movimentar e levar a reunião até eles", explica Erozane. A iniciativa foi um sucesso. Em cada noite, 120 pessoas, em média, estiveram presentes. Agora, a equipe já se prepara para definir a próxima pauta.
Preste atençãoOs encontros temáticos não precisam envolver todos os pais. Como cada faixa etária demanda um tipo de atenção, você pode abordar um assunto específico para os responsáveis de cada segmento ou turma.
  • Reunião sobre a aprendizagem
Por que e como se ensina o que se ensina?

Apagar as respostas da criança na lição de casa, não permitir o uso da calculadora para resolver uma atividade ou realizar uma tarefa no lugar do filho. Ao não ser apresentada à maneira como a escola ensina e como o aluno aprende, a família age como acredita ser o certo. Por isso, é fundamental explicar quais as concepções de ensino seguidas e mostrar as condições oferecidas para que a aprendizagem ocorra da melhor maneira. "Ao entender o percurso educativo, os pais passam a confiar no progresso dos filhos e se sentem seguros para auxiliá-los", afirma Paula Stella, da ONG Laboratório da Educação, em São Paulo.

Para alcançar esse objetivo, o ideal é organizar reuniões que permitam aos responsáveis compreender o trabalho feito em sala de aula e que mostrem que ele possui uma linha evolutiva, embasada cientificamente. A promoção de vários encontros no ano colabora com isso e ajuda a demonstrar os resultados alcançados em cada período, bem como a orientar os pais sobre como acompanhar o desenvolvimento dos filhos.

Um momento adequado para realizar esse tipo de evento é o ciclo da alfabetização. "Procuramos explicar, de forma clara e simples, a questão das hipóteses de escrita e das produções de textos. Assim, eles passam a ter subsídios para acompanhar o avanço dos alunos, ajudá-los em casa e entender que os erros, inclusive os que eles veem nos cadernos, fazem parte desse processo", conta Eduarda Diniz Mayrink, blogueira do site de GESTÃO ESCOLAR e coordenadora pedagógica da EM Murillo Garcia Moreira, em Rio Piracicaba, a 142 quilômetros de Belo Horizonte (veja o vídeo acima).

Ao organizar um encontro desse tipo, a coordenação pedagógica precisa selecionar, junto com os docentes, algumas produções para mostrar aos presentes. Fotos e vídeos do dia a dia em sala, realizados pelos próprios educadores, devem ser compartilhados. Os pais podem, ainda, contar como a aprendizagem de determinados conteúdos repercutiu em casa.

Outra possibilidade é propor aos familiares que eles façam atividades similares às que os estudantes realizam em classe. "É importante preservar a condição do adulto e não infantilizar o trabalho proposto, já que isso pode causar constrangimento", diz Cisele Ortiz. Além disso, a especialista alerta para o fato de os educadores terem a sensibilidade de encontrar uma solução para aqueles que não quiserem ou não conseguirem fazer a tarefa.
Preste atençãoAo apresentar os avanços obtidos, tenha muito cuidado para não comparar os resultados dos alunos. Questões relacionadas ao desempenho de cada um devem ser discutidas em encontros individuais.
  • Reunião de transição entre etapas
Mais atenção, menos problemas de adaptação
Horários, materiais e avaliações do 6º ano são esclarecidos em Belo Horizonte. Foto: Manuela Novais
Mudança assistida Horários, materiais e avaliações do 6º ano são esclarecidos em Belo Horizonte
As crianças vão trocar de turma? Elas terão mais lição de casa? Quantos são os novos professores? Quantos cadernos os alunos terão de levar por dia? Eles serão preparados para o vestibular? São inúmeras as perguntas que afligem os pais quando os filhos passam da pré-escola para o 1º ano do Ensino Fundamental, do 5º para o 6º do Ensino Fundamental ou do 9º ano do Ensino Fundamental para o 1º ano do Ensino Médio.

"As famílias ficam mais ansiosas que os estudantes. Por isso, essas fases necessitam de uma atenção especial. Quanto mais cuidado se dispensar a elas, menos dificuldades de adaptação as crianças e os adolescentes terão", ressalta Beate Althuon.

A abordagem pode começar na última reunião do ano que precede a transição. O diretor deve apresentar o coordenador pedagógico que trabalha com a nova etapa e ambos precisam falar sobre as características do segmento e antecipar algumas mudanças previstas. Outra possibilidade é convidar pais que já passaram por esse processo para conversar com os que vão vivenciá-lo agora.

Tópicos relacionados à rotina em classe, à dinâmica da aula e às formas de avaliação costumam ser comuns. Na mudança para o 6º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, quando os alunos passam a ter um professor por disciplina e várias aulas por dia, é interessante que os pais sejam instruídos a colocar o horário na parede de casa e ajudar na organização do material para que eles não carreguem sempre todos os livros e cadernos ou para que, ao contrário, não se esqueçam de levar algo.

Além de abordar assuntos mais práticos, é preciso estar atento a aspectos comportamentais que marcam essas transições. "Na chegada aos anos finais do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, deve-se abordar com as famílias e com os estudantes, em momentos distintos, temas como drogas e sexo porque nessa idade eles estão mais suscetíveis a experimentações. Além disso, passam a estar mais expostos à violência urbana, uma vez que deixam de ir acompanhados à escola", diz Cisele Ortiz.

A discussão sobre as mudanças deve se estender para o início do ano. Dessa vez, a coordenação pode esclarecer os resultados obtidos pelas turmas que acabaram de concluir a série em que os estudantes vão entrar. Na EE Doutor Simão Tamm Bias Fortes, em Belo Horizonte, o diretor, Elck Marra Neto, a vice-diretora, Marilac das Neves Mourão, a coordenadora, Analéria Cota Pascoal e o corpo docente participam da primeira reunião com os pais do 6º ano. No encontro, a equipe gestora aborda questões como os horários de entrada e saída, o uso do material e as formas de avaliação. "Aos professores cabe informar a quantidade de aulas de cada disciplina e explorar o currículo daquele ano", explica Elck.

O momento também serve para tratar temas como a afetividade. Isso porque, até o 5º ano, os alunos têm apenas um professor, o que favorece o vínculo entre eles. "Todos ficam receosos de que os filhos poderão não se dar bem com algum docente e que será cada um por si. Então, abordamos esse processo do ponto de vista das relações interpessoais", conta o diretor. Ainda são desenvolvidas ações pensando nos alunos. Além de passar orientações para eles no final do ano anterior à transição, os educadores do 5º ano produzem um relatório de cada estudante que é entregue aos seus pares do 6º ano.
Preste atençãoPara que as dúvidas dos pais cheguem ao conhecimento das equipes gestora e docente e sejam sanadas por elas, peça aos responsáveis que enviem perguntas antes do encontro.
  • Reunião de exposição das produções
Uma amostra do que tem sido feito em sala

A apresentação de atividades realizadas pelas crianças permite mostrar para as famílias os conteúdos desenvolvidos, o trabalho realizado pelo professor, o que os alunos têm aprendido e quais os avanços conquistados pela turma. Portanto, trata-se de uma estratégia potente para envolver os responsáveis no processo pedagógico.

Mas, como em todos os formatos de reunião, deve-se ter cuidado com a preparação. "É preciso selecionar bem as atividades que serão mostradas porque, para os pais, o que mais chama a atenção são os erros e aquilo que os estudantes ainda não aprenderam. Para enxergar os progressos, eles precisam da orientação e da intervenção do professor ou do coordenador pedagógico", esclarece Paula Stella.

Deve-se, então, reservar um momento em que o docente explique coletivamente o objetivo de algumas atividades, quais os resultados obtidos e o que eles representam dentro do percurso educativo. Diante de uma série de desenhos feitos pelas crianças da Educação Infantil, por exemplo, é importante mostrar como, gradualmente, os pequenos se aproximam das noções de perspectiva e escala, passando a compor cenas que não misturam elementos de diferentes contextos.

As produções podem ser apresentadas em projetores, para que todos acompanhem a análise, e ainda ficar expostas na parede. "Nesse caso, é interessante que os familiares sejam convidados para uma visita guiada, em que receberão explicações sobre o material", sugere Beate Althuon. Fotos e vídeos também colaboram para comparar e mostrar que os alunos estão fazendo coisas diferentes do início do processo.

Após esse momento, é possível programar outro, mais individual, em que cada um poderá analisar o que foi desenvolvido por seu filho com base no que foi dito antes. Na EMEB Professora Judith Almeida Curado Arruda, em Jundiaí, a 60 quilômetros de São Paulo, é assim que a reunião se desenvolve. Depois de uma conversa coletiva, na qual são expostos os principais conteúdos trabalhados, as didáticas utilizadas e algumas produções, os presentes têm a oportunidade de ver os portfólios preparados pelo professor em conjunto com a coordenadora pedagógica. "Encontramos nesse formato a possibilidade de as famílias verem o avanço real de cada criança", afirma Eliana Aparecida da Silva Corradin, coordenadora pedagógica do 4º e do 5º anos. Veja o vídeo acima. 
Preste atençãoFaça uma seleção cuidadosa para que as produções apresentadas não sejam de apenas um aluno ou daqueles com melhor desempenho e representem as diferentes etapas da aprendizagem.

Fonte:http://gestaoescolar.abril.com.br/comunidade/reuniao-pais-como-garantir-momentos-produtivos-cheios-sentido-805390.shtml?page=0
acessado em:23/02/2016

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Versão educativa do Minecraft chega à sala de aula

Jogo, ainda não disponível no Brasil, terá novas ferramentas que permitem o professor ter mais controle sobre as atividades dos alunos
Com peças virtuais que podem construir qualquer cenário, não é de hoje que o Minecraft deixou de ser considerado apenas diversão. Como uma espécie de Lego, o jogo já se transformou em ferramenta pedagógica para ensinar diferentes conteúdos, de ciências humanas até lógica de programação. Para alcançar mais educadores, a Microsoft anunciou recentemente o lançamento de uma versão educativa do game, que deve chegar às salas de aula ainda neste ano.
Seguindo a lógica do jogo tradicional, o Minecraft: Education Edition ganhará recursos adicionais para serem utilizados em sala de aula. Entre as novas funcionalidades, a edição educativa terá espaço para criação de portfólios, sugestões de planos de aula, avatares personalizados, cenários de paisagens históricas e a possiblidade de colocar uma classe de 40 alunos para construir projetos em conjunto. De acordo com Antonio Moraes, diretor de Educação da Microsoft Brasil, o professor também contará com recursos que permitem ter maior controle sobre as atividades feitas pelos alunos.
A nova edição dá continuidade à adaptação MinecraftEdu, criada pela startup finlandesa TeacherGaming. Com o uso deste mod (como são chamadas as alterações criadas por usuários) ou até mesmo com a versão tradicional, o jogo já foi utilizado em salas de aula de mais de 40 países, como Estados Unidos, Suécia e Irlanda. No Brasil, também não faltam exemplos de experiências criativas, como a da professora de artes Sabrina Quarentani, que compartilhou no Diário de Inovações o relato de como trabalhou Impressionismo com blocos do Minecraft.
No Colégio Porto Seguro, em São Paulo, o professor de tecnologia educacional Francisco Tupy já utilizou o jogo para ensinar diversos conteúdos. Segundo ele, que já recebeu o título de Microsoft Innovative Expert Educator e tem se especializado em pesquisar o uso de jogos na educação, o Minecraft traz inúmeras possibilidades para o professor, como construir um campo arqueológico para os alunos escavarem virtualmente, sugerir a construção de cenários para histórias de livros e filmes ou até mesmo criar museus.
Para Tupy, o Minecraft ajuda a desenvolver competências como pensamento crítico, autonomia, protagonismo, raciocínio lógico e cidadania digital. “A gente vê o quanto esse aluno se desenvolve como um líder natural, age melhor com processos e suas notas sobem naturalmente” explica.
Na opinião do professor, que já tem trabalhado com o mod do MinecraftEdu, a nova versão anunciada pela Microsoft irá ampliar as possibilidades de trabalho dos educadores. “Vão ter coisas para ajudar o professor gerir a sala de aula. Não é apenas um sistema, é todo planejamento de educação”, conta.
Uma versão teste do Minecraft: Education Edition deverá ser disponibilizada nos Estados Unidos entre junho e julho. Por enquanto, ainda não existe previsão de chegada ao Brasil. De acordo com o diretor de Educação da Microsoft Brasil, as escolas que já têm o Office 365 conseguirão incorporar o game com maior facilidade. “A ideia é tornar a plataforma viável, desde escolas pequenas até grandes grupos educacionais”, conta Moraes.
Segundo o professor embaixador da Microsoft, Rodrigo Assirati, enquanto a nova versão não chega ao país, os professores podem ter acesso a uma comunidade global de educadores da Microsoft, onde é possível compartilhar experiências e compartilhar ideias de como trabalhar o jogo tradicional. “Utilizando o jogo no modo criativo, permitimos que o aluno construa qualquer tipo de coisa. O professor consegue direcionar isso para ter um benefício pedagógico em qualquer disciplina.”

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/blogs/educacao-em-pauta/1396-versao-educativa-do-minecraft-chega-a-sala-de-aula
acessado em 22/02/2016

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Gestor, de que forma você exerce o poder?

A natureza da relação de poder que estabelecemos influencia fortemente a manutenção ou o enfraquecimento desse poder. O grande desafio está em construir o meio termo, que estabelece uma relação de respeito, solidariedade e consideração, ao mesmo tempo que não abre mão de que determinações sejam cumpridas. Percebo nas escolas algumas distorções tradicionais. A primeira é quando a gestão estabelece um relacionamento extremamente amigável e, em nome dele, afrouxa as determinações. Outra distorção típica é a preponderância das determinações e um descuido nas relações, o que geralmente estabelece um péssimo clima relacional.
A necessidade de controle é um aspecto do conceito de poder que precisa ser clareado e alinhado. O controle de que falamos na escola é inerente ao processo de gestão. O gestor é o responsável pelo resultado final, logo deve ter clareza dos principais processos a serem controlados e saber em que momentos esse controle deve ser maior ou menor. Caso não haja por que controlar, não há necessidade de se estabelecer uma relação de poder. Relação de poder se faz necessária diante da necessidade de controlar algo. Fora desse contexto, ela corre o risco de se tornar caricata ou desgastada.
Uma questão que nos chama atenção está ligada ao tipo de poder que o gestor escolar utiliza. John Galbraith, sociólogo e economista canadense, classifica o poder em três tipos: condigno, compensatório e condicionado. Essa classificação segue a cronologia do surgimento dos instrumentos operacionais do poder, que tornam possível o exercício do poder. Segundo Galbraith (2006), o poder condigno é o poder mais antigo que o homem conhece. O instrumento operacional que lhe dá vida é a possibilidade de punição. Sem essa condição, não é possível exercê-lo. Tendemos a obedecer a alguém que tem o poder de nos punir; no entanto, o poder condigno termina com a possibilidade de punição. Existe um ditado popular que ilustra bem essa questão: “quando o gato sai, os ratos fazem a festa”.
O poder compensatório é o segundo tipo e, de acordo com o autor, ganhou força com a consolidação do modo de produção capitalista. É um poder que se consolidou com a força do dinheiro. O instrumento operacional desse tipo de poder é a possibilidade de realizar o desejo do outro. Uma vez que possamos propor uma troca (você faz o que mando e eu realizo seu desejo – dando-lhe dinheiro, por exemplo) que satisfaça a necessidade do outro, podemos exercer poder sobre ele. O poder compensatório se alimenta do patrimônio e da influência política.
O terceiro tipo de poder é o poder condicionado, que se fortaleceu com o avanço do conhecimento. O instrumento operacional desse poder é a intervenção na crença do outro. É o poder da mídia e das religiões, o qual se alimenta do conhecimento e da habilidade de influenciar. É o mais complexo de se exercer, pois exige habilidade de argumentação e convencimento. O poder condicionado é o mais apropriado ao ato educativo pelo fato de alterar a crença do outro. Os poderes condigno e compensatório têm baixo potencial de conscientização e alto potencial de realização, se bem empregados. São essenciais em momentos em que precisamos que as coisas sejam feitas de maneira rápida ou em que o poder condicionado não esteja funcionando.
O equilíbrio entre os três tipos de poder é a chave para uma liderança saudável. A ação do gestor deve ser focada no poder condicionado. O poder compensatório pode ser utilizado como recurso eventual e o poder condigno é o poder de última instância. Utilizar predominantemente os poderes condigno ou compensatório é correr o risco de estar estabelecendo uma gestão com baixo nível de conscientização, o que, infelizmente, é muito frequente.
Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/1359-gestor-de-que-forma-voce-exerce-o-poder
acessado em 11/02/2016

Considerações sobre o Estatuto da Pessoa com Deficiência

É verdade que a inclusão de pessoas com deficiência estava na pauta do Congresso Nacional como um assunto que merecia uma lei própria que detalhasse os direitos dessa parcela relevante e, muitas vezes, maltratada da população brasileira. No entanto, se a edição da Lei n. 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), de 13 de julho de 2015, garantiu conquistas relevantes a elas, também trouxe obrigações adicionais às empresas que as atendem, em especial as instituições de ensino.

O direito à educação está previsto nos artigos 27 a 30 e impõe como “dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação”.  Há variadas incumbências descritas no artigo 28 que caberiam apenas ao poder público, mas o legislador conferiu obrigações também aos estabelecimentos privados. Transcrevemos e comentamos a seguir algumas delas:
Projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia.
Mais que a simples aceitação de alunos com deficiência em sala de aula, a inclusão se tornou questão obrigatória a ser prevista em cada projeto pedagógico. Chama atenção no texto anterior a expressão “adaptações razoáveis”, a qual indica que, embora obrigatórias, não devem ser extremas as transformações para atender aos alunos de inclusão. 
Adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino.
Ao dispor a respeito de ações individuais e coletivas, a norma confirma que o atendimento às pessoas com deficiência variará em razão da complexidade de cada caso concreto. Pode haver alunos que demandarão assistência unificada por profissional especializado.
Acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar.
A acessibilidade é tema grato a qualquer política inclusiva e aqui não poderia ser diferente. A regra vai além da eliminação de barreiras arquitetônicas e extrapola a sala de aula, praticamente obrigando o educador a envolver o aluno em quaisquer outras atividades.
Oferta de profissionais de apoio escolar.
Essa disposição encerra a discussão, que há tempos era alimentada, referente à necessidade de profissionais de apoio especializados em escolas de ensino regular. Essa obrigação agora é determinada por lei.
Para finalizar, o legislador proibiu a cobrança de valores adicionais de qualquer tipo aos alunos com deficiência em razão das adaptações necessárias ou da mão de obra específica para atendê-los durante as aulas. A íntegra da lei pode ser encontrada no link www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/celio-muller/1357-consideracoes-sobre-o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia
Acessado em 11/02/2016

A nova lei antibullying


Depois de muita espera, finalmente foi publicada a Lei n. 13.185, de 6 de novembro de 2015.  É verdade que a expectativa era bem maior e faltaram disposições sobre penalidades, responsabilidades e maior profundidade nas regras. No entanto, as definições trazidas pela norma certamente ajudarão o gestor educacional em seu trabalho diário, com parâmetros mais claros de como lidar com o assédio e a violência entre alunos.

Segundo o artigo 1º, parágrafo 1º, “considera-se intimidação sistemática (bullying)todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”. A expressão “intimidação sistemática” conseguiu, de alguma forma, traduzir a incômoda e controversa palavra estrangeira bullying, já conhecida de todos nós, e possibilitou uma definição mais clara dessa ocorrência: são atos de violência de natureza corporal (física) ou moral (psicológica), manifestados de forma continuada pelo agressor, com intenção de prejudicar a vítima. Esses atos são observados sem um motivo aparente e podem ser coletivos ou individuais. Como já se esperava, a repetição das agressões é um verdadeiro pré-requisito, ficando excluídas desse termo as discussões e brigas pontuais.
Destaca-se que no texto da lei não se observa o bullying como um fenômeno exclusivamente educacional.  Ao contrário do entendimento de muitos especialistas, pode ocorrer em qualquer núcleo de relacionamento – família, clube, academia, igreja, condomínio etc. – e também não está restrito às crianças, embora se evidencie que será muito mais presente e combatido no âmbito das instituições de ensino básico.
Como novidade, o legislador trouxe no artigo 3º uma classificação da intimidação sistemática conforme os meios em que é praticada:
I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;
IV - social: ignorar, isolar e excluir;
V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar;
VI - físico: socar, chutar, bater;
VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social.
Um destaque especial para o cyberbullying – também citado na lei como forma do agressor usar a internet para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais da vítima.
Como não foi prevista a penalização dos autores, fica a critério de cada julgador definir os parâmetros de responsabilidade, com base na avaliação e na gravidade dos casos concretos. De maneira geral, a norma legal enfatiza a necessidade de orientação coletiva e políticas públicas – também aplicáveis pelos estabelecimentos privados –, mas impõe uma obrigação clara em relação a esse tema:
Art. 5o É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying).
A integra da lei pode ser encontrada em

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/celio-muller/1360-a-nova-lei-antibullying
acessado em 11/02/2016