quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O dever de informar

Toda escola, particular ou pública, assume obrigações principais e acessórias ao desenvolver sua atividade. Como objetivo principal de sua existência, o dever de ministrar conhecimentos a seus alunos, seguindo os rumos definidos em seu plano pedagógico, parece ser a mais evidente de suas atribuições. 
Mas há deveres adicionais, que por seu caráter acessório, às vezes passam despercebidos pela maior parte dos gestores, mas estão contidos nas normas legais educacionais e devem ser cumpridos à risca.
Como decorrência direta do trabalho educacional desenvolvido para o alunado, o dever de informar constitui tema dos mais relevantes, e que costuma ser a base para as mais variadas reclamações – judiciais e extrajudiciais – originadas das famílias contratantes.  Não por acaso, a transparência é um dos princípios do direito do consumidor, e a Lei nº 8.078/1990 pressupõe, em seu art.6º, III, a “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
Consideremos que as aulas são lecionadas a alunos prioritariamente menores de 18 anos. Ainda que sejam usuários finais dos serviços, a prestação de contas sobre seu desenvolvimento pedagógico será feita necessariamente aos responsáveis legais. Por isso, a necessidade de se expedir boletins, avisos e circulares, e periodicamente prestar esclarecimentos às pessoas nas reuniões de pais não é apenas uma gentileza, mas sim a atenção ao cumprimento dessas normas acessórias.
Nessa mesma esteira, a informação necessária aos órgãos públicos – sobretudo as secretarias de Educação, conforme a localidade do estabelecimento em questão – tem como justificativa social o interesse coletivo para o desenvolvimento do ensino como um todo. Por isso, são colhidos dados estatísticos e registrados todos os alunos das escolas públicas e privadas num mesmo sistema de cadastro.
Se há o dever de informar por parte da escola, também há limitações claras quanto ao objeto dessa informação. A Lei nº 12.013, de 6 de agosto de 2009, por exemplo, obriga a “informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola”.   
Isso significa a obrigação de prestar contas sobre o andamento escolar a qualquer um dos pais do aluno, independentemente de residirem com a criança ou terem assinado o contrato com a instituição de ensino. Entretanto, se a informação desejada se refere aos dados financeiros, o gestor só poderá revelá-los ao seu contratante formal, eis que estão protegidos pelo sigilo cadastral.
Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/celio-muller/271-o-dever-de-informar
acessado em 20/11/2015

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A importância jurídica da agenda escolar

Desta vez falaremos sobre um tema que parece simples – e costuma ser mesmo –, mas que pode trazer complicações ou benefícios para o gestor educacional, conforme o uso que se dá a este item da lista de materiais tão comum no ensino básico: a agenda do aluno.
Primeiro vamos visualizar a sala de aula. Algum pai está presente? Certamente não, pois, se algum deles entrou, estará apenas perdido pelo prédio. Não é o lugar deles. Então de que forma a família terá conhecimento do que se passa naquelas horas do dia em que o filho se transforma em aluno e recebe os serviços contratados de nossa escola?
O boletim é insuficiente, pois é só um resumo de notas e frequência. As reuniões de pais são muito espaçadas e aguardar as mães nos procurarem em secretaria não parece razoável. Acertou quem citou a agenda como principal meio de comunicação e interação entre o docente e os pais da criança.
É ali que estarão registrados acontecimentos do cotidiano, dificuldades e evoluções observadas, pequenos acidentes e machucados, tarefas de casa, questionamentos, informações diversas sobre a atividade do dia e dos próximos dias, e assim por diante. A aparência inofensiva desse registro, vamos convir, tem a função adicional de amenizar e até humanizar o relacionamento entre escola e família, não raro recheado de recadinhos carinhosos e até adesivos de flores e passarinhos...
Mas, por trás da aparente inocência, a agenda carrega em si um princípio fundamental do direito do consumidor: a transparência. Boas ou más notícias, atos praticados por professores, alunos e colegas, os quais podem gerar responsabilização legal, estarão registrados, com linguagem simples e usual, na agenda.
Situações que envolvem a saúde do aluno, por exemplo, são essenciais na comunicação com a família, sob pena de a omissão caracterizar culpa direta da escola. Seguem o mesmo sentido as questões disciplinares e até o aproveitamento pedagógico. Imagine um aluno reprovado sem que seus pais tivessem noção de que não estava aprendendo em sala de aula, para se ter uma ideia da insatisfação gerada por uma agenda incompleta.
Como uma espécie de prestação de contas, essa troca diária de recados gera proximidade e vínculo maior da instituição com os responsáveis pelo aluno, até por isso ficamos obrigados a responder e explicar as queixas que eventualmente chegarem a suas páginas. E, nas ocorrências mais sérias, como em um tribunal, a agenda escolar pode ser uma prova documental altamente relevante para apresentação ao juiz, objetivando eximir a escola de algumas responsabilidades ou comprovar o cumprimento efetivo de suas obrigações.
Nunca é demais lembrar que a agenda é um material de propriedade e posse do aluno, que a levará para casa todos os dias. Por isso, sempre que observada alguma situação fora do comum, é recomendável tirar cópia de suas páginas, em especial quando houver manifestações, queixas ou justificativas dos pais
Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/celio-muller/1278-a-importancia-juridica-da-agenda-escolar
acessado em 12/11/2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Uma nova gestão escolar

Valorização dos profissionais, organização do tempo e do espaço escolar, ampliação da jornada, projeto político-pedagógico... Itens sempre presentes quando se fala na gestão da escola pública, mas que podem se estender a todas as escolas. O assunto foi tema do I Seminário Internacional de Boas Práticas em Gestão Escolar, realizado em 2014, em Brasília, pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). Um dos pontos debatidos foi a importância da gestão participativa. Para a professora Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde, professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar da Universidade Federal do Paraná (Deplae/UFPR), na época diretora de Apoio à Gestão Educacional da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC)a gestão escolar se constituiu, nos últimos anos, em uma das temáticas mais importantes, no sentido de transformar a educação com base na realidade que se tem na escola. “É exatamente na figura do diretor escolar que se promove essa gestão, uma gestão democrática, colegiada e que vai fazer a diferença na educação”, afirma a professora.
Já para Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco, é preciso coerência entre os pontos operacionais, táticos e de rotina no ambiente escolar. “Esses pontos articulados como princípios, competências e requisitos são uma combinação que dá maior ou menor qualidade na gestão. E gestão de qualidade está associada, necessariamente, a resultados”, enfatiza. Ele completa que esses resultados estão inseridos no propósito fundamental da educação, que é o foco no aluno, a fim de que ele tenha acesso, permaneça e retorne à escola e haja resultado de aprendizagem e de equidade. SegundoHenriques, são justamente nesses pontos que estão os desafios da gestão contemporânea.
A professora Yvelise comenta ainda que a análise de resultados dos processos avaliativos internos da escola e da avaliação em larga escala pode e deve ser considerada referência para o planejamento participativo, assim como indutor de políticas educacionais necessárias às demandas da escola e da educação. Mas, para efetivar a aprendizagem a todos os alunos, é preciso garantir a formação continuada dos profissionais da escola, com foco no conhecimento das matrizes teóricas e legais referentes às políticas curriculares como base para mudanças e inovações. Yvelise ainda chama atenção para o fortalecimento dos canais de participação dos pais e dos estudantes na escola, considerados sujeitos ativos do processo educativo.
Diagnóstico
A análise das avaliações educacionais externas e internas para orientar as ações pedagógicas também é considerada por Ricardo Henriques um fator essencial para a gestão escolar eficiente. “Trata-se de um desafio que pressupõe capacitação dos gestores para o uso dos indicadores em suas práticas. As avaliações devem servir de parâmetro para a construção de um diagnóstico adequado, baseado em evidências empíricas quantitativas e qualitativas. Diante do diagnóstico, o gestor precisa definir metas concretas e tangíveis para a aprendizagem dos estudantes”, afirma. Henriques lembra que cada secretaria de Educação precisa desenhar um plano que sirva de baliza para os objetivos de aprendizagem dos estudantes daquela rede de ensino. “A secretaria [de Educação] tem a responsabilidade de [obter] uma visão do conjunto da rede e, portanto, deve fornecer a cada escola metas a serem alcançadas”, defende. A direção da escola tem a responsabilidade de analisar, comentar e criticar as metas sugeridas pela secretaria e, finalmente, definir o compromisso de realização das metas, de modo articulado com a participação ativa de professores, profissionais da educação, estudantes e familiares. O especialista destaca ainda que as metas devem considerar os fatores determinantes e o contexto específico de cada escola. E, ao final, é desejado um alinhamento entre as metas individuais de cada escola e as metas globais da secretaria, uma vez que a rede de ensino precisa avançar em conjunto.
Para enfrentar o desafio de assegurar uma educação de qualidade para crianças e jovens do Brasil, são necessários esforços em várias frentes. Entretanto, a gestão estratégica orientada para resultados de aprendizagem e de equidade, traduzida em sua dimensão tática de operação de um plano de ação global e consistente, com rebatimento na gestão eficiente da rotina dos recursos pedagógicos, humanos, financeiros e de infraestrutura, tem peso crucial nessa equação e influencia direta e qualitativamente a aprendizagem dos estudantes.
Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/gestao/1214-uma-nova-gestao-escolar
acessado em 11/11/2015

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Escola é lugar de punição ?

Escola é lugar de punição ?

Flávia Vivaldi
Foto: Shutterstock
Precisei de alguns dias para digerir e trazer para a reflexão a seguinte reportagem: “Lei obriga aluno que não se comporta a lavar o banheiro da escola”. Veiculada pelo “Jornal Nacional” no final de setembro, ela trata sobre um projeto piloto desenvolvido em uma escola municipal de Campo Grande que resolve casos de “indisciplina” por meio de punições. A proposta virou lei e, hoje, todas as instituições da cidade “são obrigadas a aplicar medidas educativas para quem comete alguma infração no ambiente escolar”.
Confesso a vocês que a notícia me desestabilizou! Não em função das teorias que utilizamos para fundamentar nosso trabalho, mas pelo temor sobre o que está por trás desse projeto: a convicção de que o controle se dá pela punição.
Ao ler a matéria fiquei ainda mais preocupada por constatar que a iniciativa partiu da Promotoria da Infância e da Juventude. Isso nos leva a supor que a escola, de fato, não sabe mais o que fazer e precisa recorrer a instâncias externas.
Outro ponto que me chamou a atenção foi a explicação do promotor: “Dentro desse programa, com a força dessa lei, nós aplicamos [a punição] quase que imediatamente. Dentro de 48 horas, no máximo, o aluno está sendo levado a uma ação pedagógica, para reparar esse dano (sic)”. Fica evidente, por meio dessa fala, que a própria promotoria tem ideias absolutamente contrárias àquelas que defendemos em relação às sanções favoráveis para o desenvolvimento da autonomia. Como assim ação pedagógica para reparar? Elas só seriam pedagógicas se estivessem relacionadas ao dano causado, havendo, portanto, a força da reciprocidade em sua aplicação.
Além disso, também é extremamente questionável a escolha da punição, uma vez que ao qualificar a limpeza da instituição como punição aos infratores, considera-se  essas tarefas, ou até os responsáveis por elas, como inferiores – afinal, se não fossem vistas dessa maneira, não seriam as escolhidas para castigar. É lastimável! Enquanto países como o Japão trabalham para a formação integral do ser humano, incluindo no currículo, desde a Educação Infantil, as tarefas de limpeza dos ambientes coletivos como uma responsabilidade de todos, no Brasil temos atitudes como essa, que deslocam uma atividade que deveria ser compartilhada para o lugar da PUNIÇÃO.
Eu não tenho dúvidas de que há por parte dos envolvidos – instituições de ensino e promotoria – boas intenções. No mínimo, visam oferecer para a comunidade escolar um ambiente menos conflituoso e desrespeitoso. O que me causa inquietação é o significado de atitudes como essas, ou seja, o fato de ser um trabalho mais voltado para obediência do que para a autorregulação. E isso nem sempre é levado em conta pelos órgãos competentes. Minha sensação é de estar fazendo uma viagem ao passado, quando o lema da Educação era a obediência e o cumprimento das convenções sociais.
Diante disso, me surgem diversas perguntas: Queremos ou não uma transformação social? Acreditamos ou não na Educação como possibilidade de mudança? Qual é a Educação que transforma: a que adestra ou a que provoca reflexão, autorregulação e implicação na vida social?
Com todo o respeito às instituições que estão legalizando a punição das infrações nos ambientes escolares, mas quando nem elas têm o conhecimento sobre os diferentes tipos de conflito, de maneira que classificam todos eles como indisciplina, concluo que se deseja mais do que tudo a disciplina no sentido stricto: submissão e obediência à autoridade.
Desse jeito, não há como alcançar, como todos nós almejamos, o objetivo de formar sujeitos autônomos, críticos e engajados com as diferenças sociais. O máximo que conseguimos é a manutenção da heteronomia. E o que isso significa? Que os sujeitos serão guiados pelas consequências e/ou recompensas provenientes de seus atos, ou seja, agirão por interesse e não em nome dos princípios morais necessários à convivência humana respeitosa.
Defendo, portanto, que as escolas tenham clareza  sobre os objetivos expressos nos discursos e documentos oficiais, compreendam como eles se relacionam com os princípios da instituição e reflitam sobre a coerência entre eles e as ações desenvolvidas.
Fonte:http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/aluno-em-foco/2015/10/30/escola-e-lugar-de-punicao/
acessado em 05/11/2015

Que atitude tomar quando a conversa não resolve mais?

Que atitude tomar quando a conversa não resolve mais?

Flávia Vivaldi
Foto: Shutterstock
Embora formar alunos autônomos seja um objetivo comum entre os educadores, muitas dúvidas ainda pairam sobre as práticas do dia a dia. Por exemplo, não raro ouço a seguinte pergunta: “Já tentei conversar, mas não tem funcionado. O que devo fazer?”. Começo dizendo que a resposta para essa questão está no conhecimento sobre os tipos de sanções e as respectivas consequências na formação do sujeito.
Em geral, nossa formação pautou-se por uma relação em que a obediência ao adulto era inquestionável. Portanto, diante de uma situação de descumprimento à regra ou de rebeldia, a criança enfrentava as consequências impostas e que eram reconhecidas como favoráveis para a sua Educação. Eram os castigos ou, segundo Jean Piaget (1896-1980), as sanções expiatórias. Ir para o quarto mais cedo, ficar sem ver TV, perder o recreio ou ficar sem a hora do parque foram alguns dos castigos experimentados por muitos de nós e que ainda são amplamente utilizados pelas famílias e na escola.
Entretanto, do ponto de vista da psicologia moral, sabemos que consequências desvinculadas do ato não trazem a tomada de consciência necessária no processo de construção da personalidade ética. Os castigos acabam agindo sobre as pessoas e não sobre os comportamentos. “Mas não é a mesma coisa?”, você poderia perguntar. Na verdade, não. O castigo serve para que o indivíduo cumpra uma pena para causar sofrimento, com o objetivo de que ele obedeça  novamente às regras e não repita a ação. No entanto, pela relação entre o delito e a sanção utilizada ser arbitrária, após cumprir a pena, o sujeito se sente livre para repetir os mesmos atos, sem que tivesse parado para pensar que poderia agir de outra maneira. Até porque a tomada de consciência é favorecida quando não há um sentimento negativo que possa inibi-la. Por exemplo: se a criança, o jovem, o adolescente ou o adulto se sentir humilhado e/ou injustiçado com o tipo de sanção aplicada, seus sentimentos dificultam uma reflexão acerca do próprio comportamento, gerando ainda mais raiva, indignação e rebeldia.
Se a ideia é buscar uma reparação, seja ela física, emocional ou social, precisamos pensar em uma sanção que aja sobre o comportamento e seja mais desejável e justa para todos os envolvidos. Piaget as chamou de sanção por reciprocidade.  Elas preveem acoerência entre causa e consequência e são menos coercitivas, incidindo na ruptura do elo social e posicionando o infrator a respeito da natureza e das consequências de sua violação nas relações com as outras pessoas. Além disso, auxiliam na coordenação das diferentes perspectivas, o que permite ao sujeito colocar-se no lugar do outro e perceber o ponto de vista daquele que sofreu o efeito de sua ação.
E quais seriam as sanções por reciprocidade? Abaixo, falo sobre alguns tipos, mas, antes, ressalto que a aplicação delas deve ser precedida de alertas descritivos que não podem ser confundidos com ameaças.
- Excluir temporariamente do grupo ou da atividade: depois de fazer alertas do tipo “sua atitude não está contribuindo com o trabalho, podemos contar com sua colaboração ou prefere ficar fora dela?”, afastar o aluno por alguns minutos.
- Privar de alguma coisa que foi quebrada: deixar as crianças sem usar algum objeto, explicando o motivo: “O uso desse objeto depende também da sua conservação. Dessa vez, não poderei emprestar até que você consiga usá-lo sem estragar”.
- Permitir a intervenção dos pares: normalmente, os próprios colegas afastam ou impedem quem não agiu de maneira positiva de participar da atividade ou da brincadeira, uma consequência natural e extremamente importante para provocar a reflexão do infrator.
- Encorajar a reparação: diante de um dano causado pelo aluno, seja na tarefa de um colega, no mobiliário ou a alguém, é preciso incentivar, por meio de perguntas do tipo “Como você pode fazer para que ele se sinta melhor?”, a busca por soluções, entre as quais estão limpar algo que sujou, fazer o orçamento de algum serviço de reparo a um dano que causou e auxiliar nos curativos de um ferimento que provocou.
- Censurar sem punir: quando uma regra é violada, segundo Piaget, basta que a ruptura do elo social, provocada pelo culpado, faça sentir seus efeitos; em outras palavras, basta colocar para funcionar a reciprocidade. Atitudes que atrapalham a aula, por exemplo, precisam ser apontadas e relacionadas à quebra do contrato social de aprendizagem. Nesse caso, o próprio grupo intervém e rompe com o par. Ou seja, situações em que a confiança do grupo é abalada por comportamentos negativos, vale usar a reciprocidade social.
Não há dúvida que muitos profissionais confiem e se sintam mais aliviados com castigos e punições. Mas precisamos sempre voltar à nossa pergunta norteadora: “Queremos educar para a autonomia?”. Se sim, as sanções devem ser revistas para funcionarem como consequência dos atos, buscando reparação, e não como castigos.
Fonte:http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/aluno-em-foco/2015/08/28/que-atitude-tomar-quando-a-conversa-nao-resolve-mais/
acessado em 05/11/2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Como a Escola 3.0 pode renovar a educação

“No atual modelo de ensino, o professor dá o método de estudar e os alunos o fazem. No modelo que proponho é o contrário: são eles quem criam o método”, diz Sugata Mitra, professor na Universidade de Newcastle e docente visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. A interconectividade, propiciada pelas novas tecnologias, fez emergir um novo jeito de aprender, baseado na troca de experiências e conteúdos entre as pessoas. A investigação e a colaboração estão na pauta como motores de aprendizagem.
Com tantas ferramentas à disposição para aprender e compartilhar, a geração Y exige das escolas uma veloz revolução nas metodologias de ensino capazes de sedimentar uma estrada sólida para a Educação 3.0. Esse termo, para quem desconhece, foi usado pela primeira vez em 2007 por Derek Keats, professor da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo (África do Sul), como reconhecimento do aprendizado por meio de métodos formais ou informais; da reutilização de conteúdos de aprendizagem e do impacto, na educação, do aprendizado colaborativo e personalizado.
Entretanto, apesar das novas possibilidades no processo de ensino e aprendizagem, as escolas, os educadores e os gestores ainda encontram dificuldade em colocar em prática um novo jeito de “fazer acontecer”. A experiência tem mostrado que o gatilho do processo consiste em despertar o interesse do aluno pelo tema apresentado. Nas palavras de Mitra, será preciso provocar o desconhecido e permitir, definitivamente, a utilização da ferramenta de que eles mais entendem (e veneram): a tecnologia.
Na Educação 3.0, a escola é um local em que “alunos e professores produzem em conjunto, empregam ferramentas tecnológicas apropriadas para a tarefa e aprendem a ser curiosos e criativos”. Um exemplo é o Connecting Classrooms, programa global pioneiro do British Council. Trata-se de um excelente exemplo de como a educação do século XXI pode derrubar fronteiras por meio do uso das tecnologias digitais. O projeto visa formar cidadãos com uma visão mais global acerca da realidade de outros países e, assim, prepará-los para os desafios futuros. Para isso, conecta e estimula a troca de experiências e conhecimento entre estudantes dos ensinos fundamental e médio dos quatro cantos do planeta, por meio de um sistema de parceria entre as escolas.
Preparar os estudantes dessa nova geração para o mercado de trabalho é outra questão que irá exigir – e já está exigindo – nova postura dos educadores, que deve ser orientada para a sociedade do conhecimento. Uma boa forma para entender isso é olhar o atual processo seletivo de trainees de grandes empresas: podem concorrer às vagas estudantes dos mais variados cursos, e não somente aqueles diretamente relacionados à área de atuação da companhia. E isso vale tanto para empresas nascidas já na era da internet quanto para as cinquentenárias. Nesse sentido, o impacto desse novo modo de aprender é igualmente revolucionário para os próprios educadores.
A Educação 3.0 tem criado uma mobilização em todo o mundo e originado comunidades de educadores e gestores educacionais, oferecendo-lhes a oportunidade de trocar experiências e conteúdos de maneira sem precedentes. Nas palavras de Paulo Freire: “Ninguém ignora tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.
Com essa integração digital, ganham espaço novas ferramentas, como as redes sociais “fechadas”. O conceito de rede social é o mesmo já conhecido, porém, nesse caso, o ambiente é voltado para o crescimento e o desenvolvimento colaborativo de seus integrantes, capaz de proporcionar a troca de informações, conteúdos e completa interatividade entre os diversos públicos da comunidade educativa ou empresarial.
O propósito é oferecer, de maneira simples e descomplicada, informação qualificada e inteligente para a tomada de decisões estratégicas, apoiada nos conceitos de conveniência, facilidade, relevância e pertinência. Por meio da interação propiciada pela ferramenta, estudante, gestor ou educador recebem e trocam, em ambiente seguro e restrito, as informações que contribuem para o processo de aprendizagem em suas escolas.
Nesse novo ambiente educacional, o professor não somente ensina, mas principalmente aprende. Ele deve estar pronto para lidar com alunos e famílias cada vez mais conectados e informados e que, muito mais do que mestres, querem encontrar mentores capazes de facilitar o processo de aprendizado dos alunos e que estejam aptos a direcioná-los  à solução de problemas que enfrentarão na construção de uma sociedade melhor. Assim, é preciso aperfeiçoar o curso de Pedagogia e também capacitar professores, mas com foco em resultados. Fazer com que o aprendizado e os investimentos em capacitação se transformem, de fato, em resultado para os alunos. Vamos partilhar e aprender!

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/marcelo-freitas/1000-como-a-escola-3-0-pode-renovar-a-educacao
acesso em 04/11/2015

A pedagogia da Educação 3.0

Resolução de problemas que valem a pena
Isso não significa resolver as questões tradicionais que ocupam o tempo das aulas atualmente. Os alunos devem solucionar problemas que a sociedade precisa resolver para avançar. Eles precisam trabalhar em conjunto para estudar questões que sejam tanto de interesse público como acadêmico. Caso esse processo demande o aprendizado de algum conteúdo tradicional (como equações matemáticas ou fórmulas da física), os estudantes deverão aprendê-lo, mas não de maneira isolada, e sim inserida em um contexto maior.
Trabalho produtivo em grupo
Os alunos raramente trabalham sozinhos; geralmente, cada um é responsável por um aspecto do trabalho do grupo. Eles usam as ferramentas digitais de comunicação para colaborar com professores, especialistas e colegas ao longo do trabalho. Essa rotina se assemelha à dos adultos nos escritórios e laboratórios.
Pesquisas autodirecionadas
As pesquisas são direcionadas à resolução dos problemas já descritos e quase sempre são originais. Dificilmente um grupo estuda o mesmo tópico do ano anterior ou a turma toda pesquisa o mesmo assunto. As fontes de estudo também aumentam gradativamente por meio de arquivos e redes digitais.
Contação de histórias
Explicar, publicar, apresentar e convencer são habilidades importantes para todos os estudantes na Educação 3.0. Ao longo de toda sua carreira acadêmica, eles são obrigados a compor, preparar e expor ideias por meio de apresentações em público, reuniões e debates – tal qual no ensino superior e no mercado de trabalho.
Uso das ferramentas adequadas
Lápis e papel são coisas do passado. Em vez disso, os alunos agora devem usar ferramentas que sejam mais adequadas para a resolução dos problemas: computadores, calculadoras, dispositivos móveis (como smartphones tablets) etc. Aprender a trabalhar com programas de computador também é essencial.
Ser curioso e criativo
Em uma escola 3.0, curiosidade e criatividade são hábitos da mente e métodos de trabalho que precisam ser ensinados, praticados e incentivados em todas as áreas de ensino. Sem essas características, os estudantes encontrarão mais dificuldades para obter sucesso no ensino superior e no mercado de trabalho. O ideal é que todo dia os alunos terminem as aulas com uma sensação de fascínio sobre o que foi aprendido ao longo do dia.

Fonte: Princípios da Educação 3.0, escrito por Jim Lengel. Disponível em:lengel.net/ed30/principles.html (texto em inglês)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

As tendências de consumo e a gestão das escolas

A necessidade crescente de melhorarias na qualidade dos serviços que prestam tem feito com que cada vez mais as escolas sejam geridas com maior profissionalismo. Nesse particular, seus gestores demandam, também em escala crescente, ferramentas que possam lhes oferecer informações confiáveis, pertinentes e relevantes. Esses instrumentos de gestão, a exemplo do que acontece em empresas de outros segmentos, são de fundamental importância para os planejamentos de curto, médio e longo prazos e contribuem com inestimável valia na perspectiva de ajudar o gestor a vislumbrar tendências e cenários que, eventualmente, possam impactar o mundo da educação.
Mas esses instrumentos sozinhos não podem cumprir o papel de qualificar a gestão da escola ou agregar valor aos seus serviços. É importante que os gestores façam a sua parte. Olhar à sua volta com olhos críticos e fixar um ponto no horizonte são atitudes que contribuem muito para essa tarefa. Entender as mudanças sociais, tecnológicas, ambientais e tantas outras é fundamental para perceber o caminho que os consumidores estão trilhando e em que estão se baseando para tomar suas decisões de compra. E é nesse momento que surgem as chamadas tendências de consumo.
Uma tendência de consumo pode ser definida como uma nova manifestação entre os consumidores – no comportamento, na atitude ou na expectativa – de uma necessidade humana fundamental, um desejo ou uma vontade. Ao se atentar às tendências de consumo, pode-se identificar melhor as demandas emergentes ainda não atendidas. Um novo comportamento, uma nova atitude ou opinião, uma nova expectativa. Qualquer um deles pode ser base para uma tendência de consumo, a qual é particularmente importante quando buscamos inovar, nos antecipar ao mercado e projetar situações que poderão impactar diretamente o negócio.
O segmento educacional tem sido, nos últimos anos, impactado pelas mudanças do ambiente, por uma nova maneira de olhar o mundo e, principalmente, por uma forma diferente de as pessoas tomarem suas decisões de compra. O ensino a distância (EaD), por exemplo, é a maior prova disso. Ele emergiu quando as pessoas começaram a dar grande valor à comodidade, à flexibilidade e à simplificação dos processos. Isso gerou mudança de hábitos de compra em outros segmentos e, como decorrência, também na educação. Antes, para assistir a uma aula ou participar das atividades de aprendizagem, era preciso ir à escola. Com a revolução tecnológica e a disponibilização de facilidades para executar tarefas a distância (como pagar contas e requerer uma segunda via de documentos), essa facilidade foi também incorporada pelos consumidores que compram serviços educacionais e/ou realizam tarefas, como adquirir conhecimentos.
No caso dos gestores educacionais, entretanto, é preciso atenção para distinguir os modismos das tendências. Os primeiros são passageiros, vão e vêm. Já as tendências emergem e se desenvolvem. Isso significa que elas surgem quando uma mudança externa desbloqueia novas maneiras de atender antigos desejos e necessidades humanas. Na verdade, elas apontam direções e caminhos.
Outro fato corriqueiro nos processos de gestão é confundir tendências com pesquisas. A pesquisa de mercado tradicional é essencialmente um olhar para trás, uma vez que é realizada com base em dados colhidos sobre hábitos de consumo já praticados, no presente ou no passado. E mais: a pesquisa é normalmente limitada pelo que os próprios consumidores conseguem articular sobre suas necessidades, seus desejos e seus comportamentos. Ou seja, elas não conseguem olhar muito além do que a sua realidade apresenta, porque o próprio consumidor, muitas vezes, não tem ideia do quanto as coisas poderiam ser diferentes. Um bom exemplo é nos lembrarmos do que inovadores como Henry Ford e Steve Jobs pensam a respeito. É oportuno ressaltar que dados são importantes e podem dar suporte à análise de tendências, porém não são verdades em si mesmos.
A grande vantagem de vislumbrar as tendências é que a educação é um processo de longo prazo e a validade de seus serviços, na maior parte dos casos, só será constatada anos depois. Nesse particular, como lidar com as tendências de consumo se novos produtos e serviços e novas campanhas não deixam de ser “apostas no futuro”? A resposta é que, de uma maneira ou de outra, hábitos de consumo modelam a forma pela qual se tomam decisões de compra e, mais que isso, ajudam a entender o processo que leva a elas. Os valores e o tipo de conhecimento que integram esse processo são particularmente importantes não só para trabalhá-los nos processos de desenvolvimento pessoal, mas também para promover inovações. Estas, por sua vez, trazem em seu bojo rupturas significativas que podem demandar novos conhecimentos, novas habilidades e atitudes. E isso tem tudo a ver com a educação.
O fato é que, seja qual for a ferramenta adotada pelo gestor, é sempre bom lembrar que há muitas variáveis envolvidas no trabalho de avaliar tendências. Nesse aspecto, o bom gestor deverá centrar o foco não só nas tendências em si, mas principalmente nas oportunidades que elas sinalizam. Tendências são apenas sinais e caminhos que, no fundo, servem a um propósito maior: a busca por inovação. Para uma escola, tanto na ótica da gestão quanto do produto, conhecer as demandas futuras implica antecipar medidas gerenciais, criar modelos de funcionamento e oferecer diferenciais que considerem as ofertas de valor como ponto principal de decisão de compra. É aí que a escola ganha competitividade e se torna proativa.  
Mas quais tendências usar? Quando as usar? Bem, isso depende de você, caro gestor. Comece por conhecer bem sua própria marca, os valores que ela pretende transmitir, seu público e projeto educativo, suas capacidades e seus potenciais consumidores. Adapte-se à tendência de acordo com isso e deixe que as necessidades e os desejos emergentes dos consumidores sejam sua âncora.

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/marcelo-freitas/1069-as-tendencias-de-consumo-e-a-gestao-das-escolas
acessado em 03/11/2015